“Eu sei porque Deus não ‘curou’ o meu filho. Ele não o curou porque não havia nada de errado para ser curado.”
ALERTA DE SPOILER
Se você não deseja
receber spoiler do filme pare por aqui mesmo. Nessa resenha não irei poupar
certos detalhes.
Estava a procura de
um filme do gênero drama quando me recomendaram este, fui atrás da sinopse a
qual me deixou extremamente interessado, sem perder tempo fui assisti-lo.
No longa somos
apresentado a uma família que segue um determinada religião, são muito unidos,
preocupam-se muito com as coisas certas a serem feitas aos olhos de Deus e da
Bíblia, são bem regrados, e nessa família temos Bobby, o filho prodígio, o
queridinho.
Bobby começa a
sofrer, a duvidar de si mesmo, ele não consegue ter relações sexuais com
garotas e isso o assusta muito, ele se vê pecando um pecado terrível abominado
por sua família, abominado pelo livro que rege suas vidas, decide contar para
seu irmão sobre sua sexualidade, pede para que ele guarde segredo, ele acaba
não guardando e conta para sua mãe, nesse momento a bomba explode, o mundo
desaba, a vida de Bobby passa a se tornar um inferno.
Acreditando
cegamente que seu filho está indo contra Deus, contra o livro que controla suas
vidas, acreditando que ele está pecando algo que segundo a Bíblia é punível com
a morte, acreditando que forças do mal estejam agindo, acreditando que isso
seja uma doença e que é possível curar-se, ela, sua mãe, decide curá-lo. Bobby
começa a frequentar um psicólogo, passa a praticar exercícios físicos, muda sua
alimentação, tem encontros com garotas arranjados por sua mãe, passa a dormir
no sótão e se depara com trechos da Bíblia em todos os lugares da casa, em
todos os lugares mesmo, tudo isso para curá-lo, para livrar essa família pura e
santa desse pecado mortal, dessa vergonha e assim poderem juntos entrarem no
reino do céus.
Bobby sente-se
pressionado para que seja curado, sua família o cerca por todos os lados, ele
sente-se sufocado, sofre em silêncio, sente-se intimidado por sua mãe, ninguém
o entende, ninguém o escuta, ninguém se importa com o que ele sente, com o que
ele está enfrentando, ele apenas sofre.
Na tentativa de
fugir por um tempo dessa vida resolve passar dois meses com sua prima, que ao
contrário dos demais de sua família entende e o apoia. Ela acaba apresentando
ele a um amigo homossexual, passam então a viverem um romance, tornam-se
namorados, ele se sente bem, sente-se amado, sente que isso é normal, por um
breve momento de sua vida se sente vivo, por um breve momento ele está vivendo.
Volta para sua casa
e a busca pela cura continua, mas ele toma coragem e resolve bater de frente
com sua mãe, eles acabam discutindo e no meio disso ela acaba dizendo que não é
mãe dele, ou algo do tipo, ele resolve então ir morar de vez com sua prima.No
fim das contas ele comente suicídio.
Toda a família sofre
com a perda, principalmente a mãe. Ela fica preocupada por acreditar que ele
tenha ido para o inferno devido o pecado cometido, preocupa-se em não poder ir
para o céu por causa disso, mas também sofre com a perda do filho. Aos poucos
vai buscando entender o motivo dele ter tirado sua própria vida, o por que dele
cometer tal pecado, vai em busca da Bíblia para tentar compreender, vai a
igrejas na forma de achar as respostas, e nessa busca acaba conhecendo uma nova
realidade, começa a entender mais sobre a situação de seu filho através de
outros pais que tem filhos como o Bobby, homossexuais, não é fácil para ela
aceitar, mas com grande esforço vai abrindo-se para isso que até então era algo
abominável, a ponto de lutar por eles. No fim temos uma mãe que perdeu seu
filho por conta de seus atos se redimindo, uma mãe que de tanto sofrer e lutar
encontrou uma forma de fazer com que isso não se repetisse, uma forma de se
perdoar, uma forma de manter seu filho ainda vivo em si.
Creio ter relatado
as principais partes do filme, para não dizer todo o filme (risos). O filme é
maravilhoso, do tipo de nos fazer chorar horrores, até teria chorado se não
tivesse recebido o spoiler de uma amiga de que Bobby morreria, fiquei chocado
por ela ter me dado o spoiler, perdeu a graça do filme, pois desde os primeiros
segundos já esperava por sua morte, então quando ela veio o choque não foi
grande, não me senti comovido, claro que pela história fiquei abalado, mas
queria ter sofrido junto com ele, e minha amiga arrancou isso de mim, nunca
esqueceria e nem me conformarei.
Mesmo a mãe dele
tendo mudado sou sincero a dizer que não suporto o posicionamento que ela
tivera diante de seu filho, ela praticamente o matou, sim, ela é a culpada,
pois ele ainda estria vivo se não tivesse sido tratado como um doente, e sofri
muito com isso, sofri muito ao vê-lo passar por tudo aquilo, por ele sofrer em
silêncio, por recorrer a um diário, por ter sua família contra ele, tudo isso
por causa de um livro, por causa de uma religião. Sua mãe era fanática,
alienada e cega, exemplo claro disso é quando o namorado do Bobby vai dá seus
pêsames logo após o sepultamento, ele deposita num móvel um pratinho com um
talher e cumprimenta com um aperto de mão a mãe dele, quando ele se retira ela
pega esse pratinho e o talher e os jogam no lixo, em seguida lava suas mãos, as
esfregam para se manter pura, se nãos bastasse isto em plena missa diante do
caixão do garoto o padre condena o Bobby diante de toda a igreja, isso é
repulsivo, monstruoso, sentia-me com nojo dessas pessoas, raiva da mãe dele,
queria tacar a Bíblia na face dela, sacudi-la e gritar em sua cara que ela
matou seu filho, podem até achar que estou exagerando, mas quando se vê o que
ele passou a ponto de tirar a própria vida, quando se vê ela negando-o como um
filho o telespectador perde a noção do bom senso a ponto de querer esgana-la.
Alguns até podem dizer que é normal os pais se sentirem magoados ou algo do
tipo diante de uma revelação dessas vindo de um filho, isso não é para
acontecer, por mais alienada que os pais possam ser, todos devem ser amados e
aceitos da forma que são.
Todo o filme é muito
comovente, a história é muito bela e muito triste, e saber que isso é baseado
em uma história real a dor é mais intensa, o sofrimento é maior, perco a
estruturas ao pensar que esse garoto tirou a própria vida por não ser aceito
pela própria família, infelizmente isso não é um caso isolado, e tudo isso por
causa de um livro, por causa de uma religião que alguém criou para fazer uma
lavagem cerebral nas pessoas que as ceguem, tudo isso para poder ter poder e
manipular o mundo, chega a ser revoltante.
“Orações para Bobby”
é um verdadeiro dilema, temos dois lados da história apresentados de uma forma
que leva o telespectador a sofrer com os dois lados, é um filme que mesmo após
seu término você continua sofrendo, mas esse sentimento foi arrancado de mim
pelo spoiler, por que a morte dele é o centro da história, é o ápice, o que
acarreta os fatos que se sucedem e o que leva a uma reviravolta por parte de
sua mãe.
O mundo deveria
parar e assistir esse filme, um filme para se ter como lição de vida, para
aprender que palavras e atitudes podem ter consequências bem maiores do que se
pensa. Uma história que levarei para o resto de minha vida. Bobby, sofri por
ti. Só espero poder ler o livro que serviu de base para esse filme, irei em
busca dele.
Título: Orações para Bobby
Título Original: Prayers for Bobby
Ano de lançamento: 2009
Indicação: 14 anos
Duração: 89 minutos